Problemas no desenvolvimento da linguagem: “Até quando esperar?”
Diariamente, alterações no percurso do desenvolvimento linguístico infantil são diagnosticadas em crianças brasileiras. E todos os dias, sem exceção, leio ou escuto de pais, professores e médicos coisas como ‘é o tempo dele’, ‘é apenas preguiça pra falar’ ou ainda ‘antes dos 5 anos, tudo ficará bem’. Mas, então, até quando é recomendável esperar para iniciar uma intervenção fonoaudiológica na criança?
Se me dessem o direito de resposta, eu lhes diria: “Até ontem”. Sim, porque ontem a diferença entre o desempenho da criança e da média esperada para a idade era de um dia a menos do que hoje. Ou seja, a distinção só aumenta a cada dia que passa... Vamos a um caso hipotético, com personagem fictício, mas bem comum:
“Paulo nasceu super bem, andou rapidamente e nunca adoeceu. Mas, já completou 1 ano de idade e ainda não balbuciou”
O balbucio deve acontecer entre o 6º e o 9º mês de vida. Ou seja, já havia por volta de três meses de atraso no marco do desenvolvimento.
“Aos 18 meses, Paulo ainda não fala as primeiras palavrinhas. Mas nós, pais, apesar de estarmos estranhando, sabemos que na escola ele vai aprender tudo bem rápido. E daqui a seis meses ele começa por lá”
Neste caso, além de o atraso já ser de, no mínimo, três a seis meses, existe um gap significativo em termos de vocabulário. Aos 18 meses, um bebê com desenvolvimento típico tem vocabulário de 200 palavras (média).
“Veio o segundo ano de vida e, junto com a festa, também as primeiras palavras: “papa”, “mamã” e “tetê”. Um alívio para todos. Agora é só relaxar e esperar Paulo tagarelar por aí!”
A distância entre uma criança com desenvolvimento típico e a deste exemplo está também no campo estrutural: aos 24 meses já é esperado que uma criança construa frases de duas palavras.
“Paulo completou 36 meses de vida e eu sei que já não é mais um bebê, mas sua comunicação é baseada em gestos e palavras isoladas. Sob muita persistência da professora, agora ele começou a usar verbos (acabou, quero, dá)”
As crianças de 3 anos de idade já narram como foi o dia na escola, respondem a perguntas e têm todos os parâmetros de comunicação verbal (melodia da fala e os sons que produz) adquiridos quase em sua totalidade. As brincadeiras de faz-de-conta se tornam cada vez mais comuns e os discursos, bem elaborados.
E então, o que aconteceu? O atraso leve no desenvolvimento de linguagem de Paulo foi se agravando e, ao completar 3 anos de vida, já tinha alcançado um grau severo, com prejuízos em diversos aspectos linguísticos e afetava outras áreas do desenvolvimento. Perceberam?
Além dos danos já citados, dá para imaginar qual tratamento será mais custoso e de maior duração, né? É óbvio que nem sempre as crianças se desenvolverão da mesma forma e ao mesmo tempo. Porém, em um primeiro momento, não se sabe se/quando o quadro de alteração melhorará. Então, em caso de dúvidas ou suspeitas, busque orientação de um profissional. E, diante de evidências de que há um transtorno de linguagem ou de desenvolvimento acontecendo com a criança, não espere. Solicite o início imediato do tratamento para o seu filho, aluno ou paciente.
Vamos ficar de olhos bem abertos para auxiliar as nossas crianças, combinado?!